terça-feira, 20 de outubro de 2015

Frida e Diego discutem no teatro sua conturbada relação

Diego Rivera e Frida Kahlo

Frida e Diego discutem no teatro 

sua conturbada relação



Leona Cavalli e José Rubens Chachá caracterizados. /DIVULGAÇÃO
É comum encontrar quem adore Frida Kahlo e também Diego Rivera, dois grandes artistas do começo do século XX no México, assim, separados em sua personalidade e na genialidade que os caracteriza. Menos comum, pelo menos aqui no Brasil, é entender que da soma destes dois resulta uma terceira entidade: o casal.
Os dois foram retratados em uma biografia de Jean-Marie Gustave Le Clézio – o autor francês que é prêmio Nobel de literatura – que se detém pouco nas trajetórias individuais de cada um para se concentrar nas histórias conturbadas e nas experiências amorosas polêmicas da dupla. O livro se chama Diego e Frida e com uma leve diferença – o nome dela antes do dele – a peça Frida y Diego, em cartaz em São Paulo até 14 de dezembro no Teatro Raul Cortéz, cumpre a mesma missão.
Escrita pela dramaturga Maria Adelaide Amaral, nome forte do teatro e, de uns bons anos pra cá, também da televisão, e dirigida por Eduardo Figueiredo com cuidadosa direção artística de Guga Stroeter, a obra conta com as atuações despojadas de Leona Cavalli e José Rubens Chachá, caracterizados com toda a pompa e circunstância. Tem início em 1940, momento em que Frida reata seu casamento com Diego depois de um ano separados. Em seguida, faz um flashback para resgatar momentos importantes do dia a dia do casal, até chegar a 1953, um ano antes da morte da pintora em decorrência dos graves problemas de saúde com os quais lutou a vida inteira, principalmente depois de ter sofrido um acidente em um bonde. Ela tinha somente 16 anos, e, no choque, uma barra de ferro “a partiu pelo meio”, prejudicando para sempre sua coluna e seu aparelho reprodutor.
Está tudo lá: amor desmedido, traições constantes, separações e reconciliações, vontade incontrolável de Frida de ter um filho, visões políticas e a certeza de ambos de que o comunismo era a resposta para as mazelas do mundo em épocas de miséria e guerra. Mas nada na montagem toma o lugar de uma intensa discussão da relação, em que tanto Frida como Diego demonstram que mais impossível do que viver juntos era viver separados. Por isso, a única solução que encontraram foi manter um relacionamento aberto, em que ele seguia adiante com suas amantes, assim como Frida, que foi abertamente bissexual, passou a fazer.
Maria Adelaide Amaral conta que partiu de pesquisas em livros – certamente uma referência central na peça é a biografia de Le Clézio –, cartas e leituras para escrever o texto. Em todo esse vasto material disponível aí, para todos os curiosos, o interessante é que a autora tenha feito certa homenagem a ela, Frida, usando para isso inclusive a própria boca de Diego: "Você é melhor que eu, meu amor", diz Rivera em um dos trechos, referindo-se ao talento artístico de Frida. "O gênio é você, sou só sua sombra", responde ela.
Chamam a atenção, na composição geral do espetáculo, a aposta pela trilha sonora ao vivo, feita especialmente para ele pelos músicos Mauro Domenech e Wilson Feitosa, que intervêm 37 vezes entre trocas de cenário e figurino. A plateia vibra sempre que um dos personagens aparece de um canto inesperado do palco, e principalmente quando Frida entra em cena deitada em sua famosa cama, disposta, apesar de convalescente, a participar de sua primeira exposição individual no México, justamente um ano antes de morrer.


Ambos eram politicamente ativos e ligados ao Partido Comunista. /DIVULGAÇÃO
Ficam o tempo todo evidentes para o espectador as dores físicas e emocionais dela, mas, mais do que isso, o que ela desejava que o mundo registrasse de sua passagem pela Terra: sua disposição de viver e a paixão desmedida por Diego Rivera. Assim, quem sai do teatro Raul Cortez fica às voltas com a lição ensinada pelo casal: o amor é imperfeito, mas quando de fato existe, se faz maior do que a vida. E não deixa outra saída que vivê-lo até a morte.




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