terça-feira, 9 de junho de 2015

As mulheres sensuais de Korda


As mulheres sensuais de Korda

60 retratos femininos do cubano são expostos na mostra PhotoEspaña, em Madri

    Sessão numa estação ferroviária de São Paulo no final dos anos 2000. / ALBERTO KORDA
    “O que eu mais gosto são mulheres, rum e a revolução”. Essa foi a ordem de preferências vitais, dizem, do fotógrafo cubano Alberto Díaz Gutiérrez, conhecido como Alberto Korda (Havana, 1928 - Paris, 2001), o homem que imortalizou Che Guevara com seu retrato de revolucionário sonhador. Korda é objeto de uma das exposições mais importantes desta edição da mostra PhotoEspaña, em Madri, dedicada à América Latina. Korda, retrato feminino, mostra desta terça-feira até o dia 6 de setembro, 60 fotos em preto e branco de mulheres, quase todas feitas entre 1952 e 1960, das quais “uma dezena não tinha sido exposta”, disse na segunda-feira a filha mais velha de Korda, Diana Díaz, na apresentação em Madri de uma exposição feita em colaboração com o Ministério da Educação, Cultura e Esporte.


    A curadora, Ana Berruguete, salientou que Korda se tornou fotógrafo “porque queria capturar a beleza das mulheres, algo que se tornou uma obsessão”. Esse tipo de retrato foi seu gênero “por excelência”, embora não figure entre a parte mais conhecida de seu trabalho. Korda aprendeu como autodidata, no começo com sua namorada Yolanda –para tanto, tomou emprestada a Kodak 35 de seu pai– e mais tarde com sua primeira mulher, Julia López. De imagens “mais ingênuas”, enfatiza a curadora, seu estilo evoluiu para uma “encenação elaborada”, na qual os elementos que acompanham as mulheres –uma lâmpada, uma árvore, um carro– “são incluídos de maneira muito refletida para contar mais do que o mero retrato”.
    Três fotos inéditas de Julia López, a mãe de Diana, recebem os visitantes. Julia, com quem se casou em 1951 e da qual se separou cinco anos mais tarde, foi o início do rosário de mulheres que viria a posar no estúdio que Korda fundou em 1954, em Havana. Diana era muito pequena na época, mas se lembra do pai dando ordens à mãe –e a ela como imagem de anúncios– sobre como posar, qual gesto fazer ou como colocar os braços.


    De todas as mulheres que visitaram o estúdio –que também era ponto de encontro de artistas e intelectuais– destacam-se Nidia Ríos e Natalia Méndez, conhecida como Norka, musas de cânones alheios ao protótipo publicitário das cubanas. Nidia e Norka –que foi a segunda mulher de Korda– eram altas, magras, loiras e de tez clara.
    Berruguete salienta que Korda foi vanguardista porque fazia suas fotos publicitárias fora do estúdio, em lugares pouco comuns como hotéis ou praias, “com grande domínio da luz natural”. No entanto, surgiram em Cuba as primeiras críticas por tanto erotismo. Sua resposta foi retratar a secretária do estúdio, Lourdes, de preto e num cemitério, na série A beleza e a morte.
    Com a revolução comunista de 1959, a demanda por seu trabalho caiu. A publicidade e a moda foram tachadas de expressões pequeno-burguesas. “Aos barbudos do segundo escalão, não ao Fidel, as fotos do meu pai pareciam pornografia”, conta Díaz. Em 1968, o regime acabou intervindo no estúdio do fotógrafo que havia acompanhado Fidel em suas viagens. “Embora tenham requisitado material, ele nunca foi repreendido e até os convenceu a salvarem os negativos da revolução”. Então Korda fixou novos objetivos: retratos de camponesas, milicianas ou espectadoras de desfiles que, apesar das roupas ou da pose, também mostrou belas.
    Só nos anos 80 Korda retomou a moda, um retorno às origens que não mais abandonaria. A exposição termina com sua última sessão, realizada em dezembro do ano 2000. São imagens de modelos sorridentes na estação de trem de São Paulo, o epitáfio artístico Korda, que morreu em Paris cinco meses depois.



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