quarta-feira, 4 de março de 2015

As múltiplas vidas de Sophie Calle

Foto de Sophie Calle

AS MÚLTIPLAS VIDAS DE SOPHIE CALLE


Se eu pudesse escolher uma mulher no mundo com quem gostaria de trocar de vida, essa mulher seria Sophie Calle. Não que a vida dela seja melhor que a minha, mas eu a escolheria pelo simples prazer de ter a meu favor a leveza do seu raciocínio, sua curiosidade delicada e uma existência cheia de ideias brilhantes.

img-sophie-calle-fig-1_141844479238.jpg
Sophie é uma artista conceitual francesa que vem trabalhando uma mesma linha de pensamento desde os anos 80. Suas obras questionam o contraponto entre a nossa vida privada e a pública. Mas, tudo isso é feito de uma maneira que mais que fotógrafa ou artista performática, Calle pode ser tida como escritora. Aliás, a sua matéria-prima gravita sempre em torno de algum tipo de mídia acompanhada de textos.
Ouvi falar dela pela primeira vez na época em que o barulho da exposição “Cuide de Você” chegava ao Brasil. Tal exposição é a reunião de respostas de 107 mulheres a um e-mail recebido pela artista quando seu namorado, o escritor Grégoire Bouillier, resolveu por um ponto final na relação. Ela selecionou mulheres de várias partes do mundo, de diversas profissões e idades e lhes pediu que analisassem o e-mail utilizando a linguagem apropriada aos seus respectivos trabalhos. Assim, ela pode expor junto do e-mail original, analises feitas por juristas, atrizes, linguistas, compositoras, uma ave (!), entre outras.
Mas, eu particularmente gosto mais de outros trabalhos da artista. Em La Filature, de 1981, Calle pediu que sua mãe contratasse um detetive para que a seguisse, fotografasse e registrasse por escrito tudo o que ela fizesse, enquanto isso, ela escreveu um diário sobre o que lhe acontecia e ainda, pediu que um amigo se encarregasse de fotografar o detetive exercendo a sua função. O cruzamento de todas essas histórias dela mesma foi o conteúdo da exposição.
img-sophie-calle-fig-3_141923496350.jpg
Em 1983, ela conseguiu um emprego como camareira de um hotel em Veneza e enquanto arrumava os quartos fotografava coisas deixadas pelos hóspedes a fim de traçar o perfil de cada um através desses objetos. Um dos seus trabalhos mais polêmicos foi Adress Book. Sophie foi convidada a escrever para o jornal Libération, tendo encontrado na rua uma caderneta de endereços, ela resolveu escrever um perfil do dono dessa agenda sem conhecê-lo, se valendo apenas de informações dadas pelos contatos de tal lista. Baseada nessa informações ela fez fotos de atividades que o dono da agenda gostava de fazer. Assim, foram publicados 28 artigos que contavam a vida de um desconhecido, mas o desconhecido não gostou nada disso e processou a artista.

OBVIOUS




Nenhum comentário:

Postar um comentário