sábado, 2 de dezembro de 2017

Nathan Englander / O herdeiro rebelde de Philip Roth

O novo livro de contos de Englander e o retrato do autor, no alto.
Quando lhe perguntam como é ser um escritor judeu, ele diz que não vê isso como uma categoria literária
(Foto: Marco Secchi/Corbis e Divulgação)


Nathan Englander 

O herdeiro rebelde de Philip Roth

No último dia 19 de março, o romancista americano Philip Roth fez uma grande festa em comemoração de seus 80 anos. Reuniu 250 pessoas, entre amigos e admiradores, no salão de festas do museu de Newark, em Nova Jersey, cidade onde nasceu e cresceu, que povoa sua obra como a Londres de Dickens ou a Salvador de Jorge Amado. Roth estava de bom humor: sorriu, acenou, partiu um bolo no formato de uma pilha de livros. Foi sua primeira aparição pública desde que anunciou que deixaria a literatura, durante uma entrevista para a revista francesa Les Inrockuptibles, em outubro do ano passado. Ele é um dos maiores escritores americanos do pós-guerra. Herdeiro da geração pioneira de Saul Bellow (1915-2005) e Bernard Malamud (1914-1986), Roth ajudou a forjar a identidade moderna dos judeus americanos. Sua aposentadoria foi recebida pela crítica como o fim de uma era.
Os temas da nova geração (Foto: David Levenson/Getty Images, Anne-Christine Poujoulat/AFP, Steve Bisgrove/AP Images e Fabio Braga/Folhapress)























Um dos convidados para a festa de Roth foi o escritor Nathan Englander, de 43 anos, apontado como um de seus discípulos. Englander é americano, judeu e romancista. É de uma geração que começa a rechaçar um rótulo que une – a seu ver, artificialmente – essas três condições. Como Englander, outros autores jovens formados na cultura judaica tentam dar sua própria resposta aos desafios culturais e pessoais da diáspora (leia o quadro).

A crítica recebeu bem os livros de Englander – um romance e duas coletâneas de contos. Do que a gente fala quando fala de Anne Frank (Companhia das Letras, tradução de Claudio Marcondes, 208 páginas, R$ 39), seu último livro de contos, foi motivado pela pergunta que o perseguiu em 15 anos de carreira. Como é ser escritor judeu? “Não acho que exista essa categoria literária”, disse Englander a ÉPOCA. “Nunca sento para escrever e penso: ‘Esse texto vai ser sobre o judaísmo’.” Ele diz que Roth é uma influência forte. “Lembro de tê-lo lido ainda jovem, mas tenho influências menos óbvias, como George Orwell ou Júlio Verne.”

Englander cresceu numa comunidade tradicional de judeus em West Hempstead, em Nova York. Frequentou colégios onde praticamente todos os alunos eram judeus. Jovem, morou por cinco anos em Israel. Hoje, vive com a mulher e o cachorro no Brooklyn, em Nova York. No conto que dá título a seu novo livro, dois casais de judeus, um secular e outro religioso, se embriagam e passam a brincar do jogo do “Gentio Justo”: qual de seus vizinhos não judeus os esconderia no caso de um novo Holocausto? “Estou escrevendo histórias sobre pessoas. É sobre pertencer a uma determinada cultura, a uma memória”, diz Englander. “Quando abro em Nova York um livro de Jorge Amado e leio sobre a Bahia, entro em contato com um mundo estranho e maravilhoso. Ao mesmo tempo, um brasileiro na Bahia pode abrir o mesmo livro e se encantar. Só depende de uma boa história.”








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