segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A sutileza dos contos de Katherine Mansfield perdura até hoje



A sutileza dos contos 
de Katherine Mansfield perdura até hoje

Por Luma Pereira
19. 01. 2013

“A única escrita que eu invejei”, declarou a escritora inglesa Virginia Woolf sobre as histórias de Katherine Mansfield. Os contos curtos e que sempre trazem uma descoberta que transcende a banalidade do cotidiano influenciaram também nossa autora brasileira Clarice Lispector.

“Existia entre Katherine e Virginia uma relação de admiração mútua, baseada numa amizade irregular, feita de alguns encontros e duma sensação persistente de cumplicidade, mas também de saudável rivalidade”, comenta Alda Correia, professora da Universidade Nova de Lisboa, que tem um trabalho sobre K. Mansfield.

Há quem diga que Virginia jamais teria escrito sua obra mais conhecida, Mrs. Dalloway (1925), se não fosse pela influência da amiga. Certa vez, ambas leram Ulysses (1918-1920), do escritor irlandês James Joyce, e discutiram a obra juntas.

Nascida na Nova Zelândia, em 1888, a autora se mudou para a Inglaterra em 1902. A princípio, não foi atraída pela literatura, mas pela música: era violoncelista. Apenas em 1906, ao voltar para sua terra natal, é que começou a escrever contos e fazer amizades no meio literário.

Costumava utilizar material autobiográfico de sua infância na Nova Zelândia – a depressão e a morte do irmão, soldado na Primeira Guerra Mundial, por exemplo –, além da experiência como estudante na Alemanha e na Inglaterra.

Escreveu uma coletânea de histórias a partir de um fato de sua vida: quando jovem, foi mandada para a Alemanha para ter o bebê que concebeu com o músico Garnet Trowell –e lá, hospedou-se numa pensão. A criança nasceu morta, e ela escreveu os contos de In a German Pension (1911).

K. MANSFIELD, A CONTADORA DE HISTÓRIAS

Considerada Modernista pela época –ela até se autodeclarou assim para a revista Rhythm, que coeditava com o marido, John Middleton Murry –, os principais temas de suas histórias eram o isolamento, a solidão, a dificuldade de apreensão e a transitoriedade da verdade.

Kathleen Jones, que escreveu a biografia Katherine Mansfield: The Story-Teller(2010), diz que Katherine nunca desperdiçava uma palavra sequer. “As histórias têm a habilidade de transportar o leitor para a vida de outras pessoas – e também ao si mesmo secreto”, comenta ela, em entrevista ao SaraivaConteúdo.

“Mansfield construía com apuro seus contos, com epifanias, nos quais muitas vezes a ação era mínima”, descreve Alexandre Barbosa de Souza, tradutor da obra Contos, lançadapela Cosac Naify em 2005. A história se desenrola a partir de fatos banaisdo dia a dia.

“Ela procura criar uma atmosfera a partir de uma determinada realidade, evocando ações ou sentimentos, descrevendo percepções, mas também ilusões e os seus efeitos”, comenta Alda. O conto Bliss (do inglês, “Felicidade”) é um dos mais conhecidos da autora e parte de uma ação aparentemente sem importância – a protagonista organiza um jantar em sua casa.

A epifania – que ela chamou de “glimpse”, isto é, vislumbre – é outro elemento presente nos contos. “É o momento em que, segundo a autora, toda a vida da alma está contida e o tempo se suspende”, conta Alda.

É essa epifania que a aproxima de Clarice Lispector, segundo Alda. “Ambas escreviam histórias com monólogo interior e frequentemente utilizavam também ‘epifanias’ como o momento central das narrativas”, comenta Kathleen.

Influenciada principalmente por O. Wilde e A. Tchekov,ela conquistou seu lugar na literatura mundial. Também o cinema a inspirou: as produções mudas que estavam começando a aparecer na época. The Black Cap é um conto que ela escreveu em forma de script de filme.

Viver 34 anos parece pouco, mas ela conseguiudeixar uma vasta obra composta de contos, além de ter feito críticas sociaissobre a condição social feminina em seus escritos. Dia 9 de janeiro (2013) é aniversário de 90 anos de sua morte por tuberculose –mas a sutileza dos contos ainda perdura.

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