terça-feira, 22 de julho de 2014

Courtney Love, aos 50 anos, resiste


Courtney Love, aos 50 anos, resiste

Depois de soprar as velinhas, a eterna viúva de Kurt Cobain contra-ataca como atriz e faz as pazes com os membros vivos do Nirvana

     

Courtney Love no dia de seu aniversário, em Los Angeles. / MUNAWAR HOSAIN (CORDON PRESS)
A princesa do punk, a tão admirada quanto atacada Courtney Love, chegou aos 50. E o que há de diferente entre a mulher madura que nos recebe em Los Angeles e a que foi esposa de Kurt Cobain? Da cantora bagunceira do Hole? De quem falou que ia se reinventar como diva impossível de Hollywood? “Nem deu tempo de notar nada. Faz apenas uns dias que sou cinquentona”, reconhece esta canceriana nascida em 9 de julho em São Francisco. “Vejamos... Noto que começa a cair o que deveria estar firme. Que tenho dois cabelos brancos, dois, que batizei com os nomes dos meus advogados. Que fisicamente sou mais velha, mas que descarto as cirurgias plásticas. Em que também deixei as drogas. Até a cafeína. Fumar é meu último pecado. O amante safado que deveria deixar. Bom, ainda tenho a nicotina e o sexo. Mas o sexo não é pecado. É a melhor forma de fazer exercício.”
Este discurso desinibido serve de incrível cartão de visitas para o segundo ato de uma vida que nunca deixou de surpreender, equilibrando-se entre o talento e a loucura, o escândalo e o amor de esposa e mãe, da música underground e o cinema comercial. Love aparece como uma figura trágica ou maquiavélica, depende a quem você pergunta ou o momento de sua vida que seja revisado. Porque poucas como ela sobreviveram a essa montanha-russa chamada vida com tanta intensidade e sobreviveram para contar.
- Qual é seu segredo para ter chegado até aqui?
- Os genes - confessa sem pestanejar.
- Desculpe, mas os genes não são suficientes para sustentar uma biografia como a sua.
- Mas ajudam. E, além disso, criei muito calo, mais do que qualquer outra pessoa, para aguentar esta indústria em que trabalho: seus altos, seus baixos e a contínua rejeição - acrescenta, apontando para seu bíceps direito.
Aí dá para ler, em uma tatuagem enorme em tipografia gótica, Let it bleed. Como diz a canção dos Rolling Stones. Ou como seu melhor conselho pessoal. Deixe sangrar. Ela mostra orgulhosa, embora negue que tenha feito em homenagem a “essa horrível” canção do grupo de Mick Jagger. A tatuagem nasceu “de uma noite de dor, de necessidade de sentir a dor”.
Porque Love deixou para trás lágrimas, muita tinta e desastres. O suicídio de Cobain, em 1994 ainda a persegue (reportagem em espanhol). Fez com que ganhasse o ódio violento dos fãs do mártir dogrunge e um trauma que arrastará por toda a vida explorando seu papel de eterna viúva do grunge. “É importante manter os atores com vida para que continuem fazendo filmes, mas no rock & roll quando chegamos ao auge, quase de maneira inconsciente, quem morre se torna mais valioso”, reflete alguém que não morreu por milagre mas que, utilizando o jogo de Monopólio como metáfora, assegura que foi mandada para “a prisão” de Hollywood e do rock.
Como a especialista em fugas que é, desta vez volta para uma partida dupla: integrando-se no elenco da sétima e última temporada da série de motociclistas Sons of Anarchy no papel de uma professora rigorosa e sugerindo uma possível reunião do Hole. Não culpa ninguém além de si mesma pelo que aconteceu com sua carreira, com ambas, de suas brigas com o resto do Nirvana, com seus amantes, do vício em drogas que impossibilitou uma carreira segura em Hollywood. De suas brigas, públicas demais, inclusive com sua filha Frances Bean, de quem perdeu a custódia em duas ocasiões. “Entregaram-me o sucesso em uma bandeja de prata e eu não estava preparada. Não fui bem assessorada e minha bússola estava desequilibrada. Não era dona de mim mesma, mas agora aos 50 sei o que quero”, reafirma em uma litania de mea culpa.
O que ela quer é um Globo de Ouro, repete sem ficar acanhada com a Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood. Não é absurdo. Já foi candidata a esse prêmio como melhor atriz por O Povo Contra Larry Flynt. Com Edward Norton, um de seus amores mais polêmicos, já fez as pazes, conta. Assim como com o Nirvana. Em maio participou junto a seus membros no jantar onde o Rock and Roll Hall of Fame incluía a emblemática banda de grunge em sua galeria de honra. “Finalmente nossa geração está representada”, admite deixando escapar a fumaça de seu cigarro eletrônico. Ela continua espalhando o gênero pelo mundo - está preparando uma turnê pela Austrália - mas diz que é alérgica às “turnês nostálgica de avôs”.
Mudou até em sua relação com os homens, confessa dentro de seu vestido apertado cor salmão que marca bem todas as curvas, desejadas ou não. “Poderia ter ficado com um modelo de roupa interior da Ralph Lauren de maravilhosos 32 anos. Mas não consegui porque me senti como se fosse a mãe dele. Não consigo mais. Para piorar, como chego com tanta bagagem, só os caras com muito peito são capazes de passear comigo em público”, descreve atrevida esclarecendo que continua “muito ativa” em temas sexuais, embora também “muito discreta”.
A passagem do tempo é percebida nos pequenos detalhes. Na garrafa de vinho que ganhou de Bono, do U2, por seu aniversário - engarrafada no mesmo ano de seu nascimento. Ou em seu desejo de ser avó. “Apaixonar-se também é bom e melhor ainda que te amem”, acrescenta quem conserva em seu corpo duas flores de cerejeiras tatuadas “em lugares especiais para amores especiais”.
Além disso, está nessa idade na qual se pode permitir dar conselhos aos que vêm atrás, de Adele, a quem diz ter ajudado em sua carreira - “embora ela não saiba” -, a Miley Cyrus, que encontra no Chateau Marmont de Los Angeles, um de seus lugares favoritos. “Minhas recomendações são que, quando chegar ao mais alto, não se drogue. Que pare de fumar antes de começar. E que não deixe nenhuma mensagem depois das nove da noite ou vai ferrar todas suas relações. E que não seja uma filha da puta. Quem quer estar ao lado de um bicho ruim?”, e ri de seus conselhos. Colocou algum em prática? “Todos. Menos parar de fumar.”
ue me senti como sua mãe. Isso não me vai. Em cima como chego com tanto bagaje, só os tipos com aquilo roxo são capazes de se passear em público comigo”, descreve procaz esclarecendo que segue "muito ativa" em temas sexuais, embora também "muito discreta".
O passo do tempo percebe-se nos pequenos detalhes. Na garrafa de vinho que lhe presenteou Bono, de U2, por seu aniversário do ano —embotellada no mesmo ano de seu nascimento—. Ou em seu desejo de ser avó. “Apaixonar-se também é bom e melhor ainda que te queiram”, acrescenta quem conserva em seu corpo duas flores de cerejeira tatuadas “em locais especiais para amores especiais”.
Além disso está nessa idade na que pode ser permitido dar conselhos aos que vêm detrás, desde Adele, à que diz ter ajudado em sua carreira —“embora ela não o saiba”—, a Miley Cyrus, com quem se cruza pelo Chateau Marmont de Los Angeles, um de seus locais preferidos. “Minhas recomendações são que uma vez esteja no mais alto não te drogues. Que deixe de fumar antes de começar. E que não deixe nenhuma mensagem após as nove da noite ou te carregará todas tuas relações. E que não seja uma filha de puta. Quem quer estar junto a um mau bicho?”, ri-se de seus conselhos. Algum que ponha em prática? “Todos. Menos deixar de fumar”.




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