terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Rio pendura o cartaz de 'lotado'

Rio pendura o cartaz de 'lotado'

Com hotéis em ocupação máxima, Copacabana já está preparada para receber mais de dois milhões de pessoas vindas de quase todos os cantos do planeta para o Réveillon



Show de fogos em Copacabana na virada de 2012 para 2013. / WENG XINYANG (XINHUA)
O Rio de Janeiro chega ao seu internacionalmente conhecido Réveillon em Copacabana com a lotação total de seus hotéis e um tempo instável, que alterna sol, temperaturas altíssimas (na véspera os termômetros registraram 39 graus e uma sensação térmica de 49) e chuvas dispersas. A praia mais popular do Brasil já está preparada para receber mais de dois milhões de pessoas vindas de quase todos os cantos do planeta para desfrutar de um dos espetáculos ao ar livre mais cotados nas agências de viagens: a queima de 24 toneladas de fogos artificiais sobre o oceano e uma ampla programação de shows em três palcos distribuídos ao longo da praia.
A chegada do verão faz com que essa festa seja especialmente exótica, já que a tradição diz que deve ser vivida nas ruas e com roupas leves, se possível de cor branca. Também é tradição no Rio e em outras áreas do litoral brasileiro oferecer flores a Iemanjá, a divindade do mar na umbanda e no candomblé.
A mãe de santo Katia do Ogun prevê que 2014 será um ano turbulento para o Brasil e o resto do mundo. Segundo a tradição do candomblé, o ano que começa estará regido pelos orixás do vento e do fogo, Iansã e Xangô, e terá influências de Oxalá.
Mas isso não parece preocupar muito os cariocas e os turistas, que se inclinam mais pelo Carpe Diem. Segundo a Riotur, 767.000 turistas já estão instalados na Cidade Maravilhosa e a taxa de ocupação nos hotéis supera 95% dos mais de 34.000 quartos disponíveis. Espera-se que a cidade fature 614 milhões de dólares (quase 1,5 bilhão de reais) com o turismo.
Em Copacabana, que será o epicentro da festa, onze balsas localizadas a 400 metros da orla estão preparadas para queimar 24 toneladas de fogos artificiais durante 16 minutos. Ao longo desse tempo, o céu da praia legendária permanecerá iluminado de forma ininterrupta por cores e desenhos. O tema que inspira o espetáculo de pirotecnia neste ano é a continuação do filme de animação Rio, dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha. Por esse motivo, sabe-se que durante os primeiros 56 segundos de explosões predominará a cor azul, em referência a Blu, a arara azul que protagoniza as aventuras tanto no primeiro como no segundo filme.
Boa parte do bairro de Copacabana será fechada para o tráfego durante a noite e o metrô vai ser mais um ano mais lotado pelas mais de 120.000 pessoas que se aglomerarão nos vagões para chegar até a praia. A presença de público esperada pelas autoridades do Rio e o recente aumento do índice de roubos de pedestres em determinados bairros da cidade provocaram o anúncio de um potente dispositivo de segurança composto por 1.500 policiais militares que zelarão pelo bom andamento da festa.
Nos últimos dias, o prefeito Eduardo Paes pediu aos que tiverem a intenção de receber o ano novo em Copacabana que se inspirem no público da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acampou na praia sem incidentes e sem fazer muita sujeira. Paes parece se esquivar de que a diferença entre o público da vigília papal e o do réveillon carioca é, basicamente, que o primeiro esteve concentrado na oração e na meditação, enquanto o segundo costuma se inclinar por atividades mais mundanas.
O próprio espetáculo de pirotecnia dará motivo ao contato desinibido entre o público, já que em um momento determinado se escutará pelo sistema de som o ruído de alguns beijos para que os 2,6 milhões de espectadores percam a vergonha e os reproduzam com seus próximos.




segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Navio com 74 pessoas passará o ano novo encalhado na Antártida

Tripulação e passageiros do barco Akademik Shokalskiy. / ANDREW PEACOCK (AFP)

Navio com 74 pessoas passará o ano novo encalhado na Antártida

A expedição russo australiana está presa no gelo desde o dia 24 de dezembro


Uma tormenta de neve frustrou a tentativa de um barco guindaste australiano para resgatar a um barco russo encalhado há uma semana na Antártida com 74 pessoas a bordo. O Akademik Shokalskiy saiu da Nova Zelândia no dia 28 de novembro em uma expedição para comemorar o centésimo aniversário de uma viagem liderada pelo explorador australiano Douglas Mawson.
A expedição ficou encalhada no gelo no dia 24 de dezembro a 100 milhas náuticas ao leste da estação antártica francesa Dumont D' Urville.Entre os 74 presos no gelo há cientistas e turistas, muitos deles de Australia.

A expedição ficou encalhada no gelo no dia 24 de dezembro
Uma primeira tentativa de foi feita a cabo por um navio quebra-gelo chinês, o Dragão da Neve, teve que ser suspenso devido à grande espessura do gelo. A tentativa do Aurora Australis foi atrapalhada pelo clima. O quebra-gelo teve que voltar para águas abertas perto de se afastar até 18 milhas náuticas do Akademik Shokalskiy devido à má visibilidade. A autoridade de segurança marítima australiana (AMSA) está coordenando o resgate.
O barco australiano chegou a se aproximar a umas 10 milhas do barco encalhado antes de ter que abortar o resgate. "As condições climáticas fazem com que a operação seja muito perigosa", explicou a porta-voz de AMSA Lisa Martin .
O Dragão de Neve chinês está a umas 6,7 milhas náuticas da Akademik Shokalskiye, com um helicóptero a bordo que se utilizará para resgatar os 52 passageiros e a alguns tripulantes, se as condições meteorológicas permitirem, segundo informou o Ministério dos Exteriores russo. Questionado se os passageiros terão que viver o Ano Novo no barco encalhado, Martin disse: "Certamente parece que seguirão ali amanhã".




sábado, 28 de dezembro de 2013

Guilherme Freitas / Guerras de Canudos



Guerras de Canudos


Seca de três anos reduz nível de açude e traz à tona ruínas da antiga Canudos, onde moradores e pesquisadores lutam para preservar a história local, atrair visitantes e mudar a forma como a cidade é retratada nos livros de História
Por Guilherme Freitas
Em “Os sertões”, Euclides da Cunha descreve a porção norte da Bahia, entre os municípios de Juazeiro e Glória, a mais de 400 quilômetros de Salvador, como “um deserto”. No centro dele está Canudos. O povoado ganhou lugar no imaginário nacional como uma espécie de emblema da resistência do sertanejo a partir de finais do século XIX, quando chegaram ao litoral notícias sobre a comunidade liderada pelo beato Antônio Conselheiro onde milhares de pessoas compartilhavam terra, comida e água, recusavam-se a pagar impostos e repeliam seguidas expedições militares. Arrasada pelo Exército em 1897, foi em parte reerguida na década seguinte por sobreviventes da guerra. Nos anos 1950, começou a ser desocupada para a construção do açude de Cocorobó, no rio Vaza-Barris, concluído em 1969. Os moradores se instalaram em uma área próxima, com vista para o lago que inundou as ruínas da primeira e da segunda Canudos.

Fotogaleria: veja mais imagens de Canudos

A terceira Canudos é um município de 15 mil habitantes, menos que os 25 mil estimados na época de Conselheiro. A economia local, baseada no cultivo de banana no perímetro irrigado do açude, se apoia em programas federais como o Bolsa Família, que atende 2.769 famílias (mais de 70% da população), e o microcrédito, que só este ano injetou quase R$ 1 milhão na cidade. Hoje Canudos é posta à prova outra vez pelo mesmo “espasmo assombrador da seca” que Euclides observou ali há mais de um século. A estiagem na região, assim como em outras partes do sertão nordestino, já dura três anos, a maior em cinco décadas. Cocorobó está com apenas 13% de sua capacidade total de 246 milhões de metros cúbicos. Com o recuo das águas, as ruínas emergiram pela primeira vez no século XXI, como o lembrete de uma história de resistência.

Mesmo em meio à seca, moradores e pesquisadores trabalham para transformar Canudos. Investem na preservação da memória local para atrair visitantes, gerar empregos e mudar a forma como sua história é vista na própria cidade e no resto do país. Propõem também alternativas para reduzir a dependência do açude e melhorar o aproveitamento da água mesmo fora dos períodos de estiagem.

— Canudos é uma cidade pobre, com muitas necessidades. Precisamos preservar nossa memória e pensar também em outra batalha que se trava no sertão, contra a miséria e a desigualdade — diz o professor Luiz Paulo Neiva, pró-reitor de Planejamento da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e coordenador do Projeto Canudos, voltado para o desenvolvimento local sustentável.

O principal equipamento histórico da região é o Parque Estadual de Canudos, administrado pela Uneb. Criado em 1986, ocupa uma área de 13 quilômetros quadrados correspondente ao cenário da guerra. Há poucos meses, o Parque recebeu a primeira parte de uma intervenção artística que ocupará 14 pontos ligados ao conflito. O Alto da Favela, colina disputada por conselheiristas e militares por sua visão estratégica, ganhou uma reprodução da primeira caricatura de Conselheiro encontrada na imprensa nacional. Um mapa do arraial esboçado por Euclides marca o ponto de onde ele o observou. Em outra parte, há um conjunto de retratos de sobreviventes da guerra por fotógrafos como Pierre Verger e Evandro Teixeira. Mais adiante, detalhes de rostos femininos recortados e ampliados da célebre foto dos 400 prisioneiros conselheiristas feita por Flávio de Barros, autor dos únicos registros visuais da guerra.

Plotadas em grandes painéis transparentes, as imagens se misturam à paisagem, fazendo do Parque uma combinação de reserva ecológica de caatinga, museu a céu aberto da iconografia de Canudos e sítio arqueológico (ainda se encontram trincheiras de pedra e volta e meia o visitante topa com um pedaço de bala). 

— O objetivo das intervenções é estimular a contemplação. Quem chega a Canudos sente o peso da guerra, aquele imenso erro concretizado em um massacre terrível. Mas vê também um lugar de grande beleza, o que aparece nos relatos da época de Euclides e até dos militares — diz o fotógrafo baiano Claude Santos, de 60 anos, idealizador da instalação e autor de diversos trabalhos sobre Canudos, entre eles um guia visual do Parque e o longa-metragem “Vozes”, em fase de conclusão, criado a partir da leitura de relatos da guerra.

Santos esteve pela primeira vez na região em 1964, aos 10 anos, com o pai, o fotógrafo Alfredo Vila-Flor, autor de importantes registros da segunda Canudos às vésperas da inundação. Nos anos 1980, voltou à cidade com os negativos do pai. Estudou os cenários da guerra às margens do açude, mas as ruínas estavam submersas. Só em 1997, depois de uma longa seca fazer sumir parte do lago, pôde voltar a caminhar no terreno do arraial. Na época, colaborou com uma equipe da Uneb em uma operação de salvamento arqueológico. Santos recorda a emoção de ver o cemitério de Canudos ressurgir quase intacto — e a decepção de encontrá-lo depredado poucos dias depois por moradores em busca de ouro.

Hoje pouco restou do cemitério, mas a estiagem permite que se ande em meio a ruínas das duas Canudos. A mais antiga é o pedestal do cruzeiro, que ficava na Praça das Igrejas construída por Conselheiro. A mais imponente é a arcada de uma igreja erguida pelos sobreviventes. Ao lado dela, há um barco de madeira encalhado. Transformada temporariamente no leito seco de um açude, a terra onde primeiro se ouviu a profecia “o sertão virará praia” está coberta de conchas.

Perto das ruínas, uma barraca mantida pela Associação dos Sem Teto de Canudos vende livros sobre o sertão, lembranças da cidade e o CD do sanfoneiro Landinho Pé de Bode, último da região a dominar a arte da sanfona de oito baixos. Os produtos dividem espaço com cartazes de protesto: “Moradia digna, direito de todos — Por que até hoje eu vivo assim? — Avante Canudos — A utopia do Conselheiro”.

Além do Parque e das ruínas, Canudos tem outros pontos de interesse histórico. O Memorial Antônio Conselheiro, na entrada da cidade, tem relíquias arqueológicas (como armas, ossadas e utensílios do arraial), uma exposição de iconografia e outra sobre Euclides, além de uma boa biblioteca sobre o conflito. O Instituto Popular Memorial de Canudos guarda o cruzeiro retirado das ruínas. E há as surpresas pelo caminho. O administrador do Hotel Brasil, Carlos Alberto dos Santos, de 46 anos, neto de uma sobrevivente da guerra, se declara “anticonselheirista” e lamenta que a imagem de Canudos esteja associada a um homem que, diz, “explorou a fé e a fome das pessoas para fazer a revolta dele”. Mas exibe com orgulho aos hóspedes uma bala de canhão que está com a família há três gerações.

Para criar um calendário turístico em torno dessas memórias, o Projeto Canudos da Uneb quer construir, fora do Parque, uma cidade cenográfica reproduzindo o antigo arraial. Luiz Paulo Neiva explica que as instalações funcionariam como centro cultural ao longo do ano e, em outubro (mês que marcou o desfecho do confronto em 1897), receberiam uma representação da guerra. O plano é inspirado na cidade-teatro de Nova Jerusalém, em Pernambuco, onde ocorre anualmente uma das encenações da Paixão de Cristo mais conhecidas do país.

O Projeto Canudos também oferece cursos de formação para monitores turísticos na cidade, com aulas sobre o cenário da guerra, ministradas por Claude Santos, e noções de geologia, arqueologia e literatura. Um dos coordenadores do curso, João Batista de Lima, de 27 anos, criou o site <www.visitecanudos.com> para combater a falta de informação sobre sua cidade natal no resto do país. Muitos guias turísticos recomendam que os interessados em visitar o Parque se hospedem no município vizinho, Euclides da Cunha, a cerca de 80 km, alegando que Canudos não tem asfaltamento nem hotéis. Mas isso já mudou há pelo menos dois anos. Com a melhora da infraestrutura, a frequência tem crescido. Em 2012, o Parque recebeu 8 mil visitantes. Este ano, até o início de dezembro, foram 10 mil.

Batista, que também é vigia do Parque, começou a pesquisar a história de Canudos por conta própria, em 2005, quando ganhou uma bolsa para trabalhar na biblioteca do Memorial. Lendo, descobriu-se descendente da família de Manoelzão, afilhado de Conselheiro e um dos fundadores da segunda Canudos. Ele lamenta que a maioria dos canudenses de sua geração não deem importância às raízes, por desinteresse ou pelo estigma de fanatismo que para muitos ainda cerca a imagem do arraial. E se diz “conselheirista”.

— Canudos para mim foi um movimento de compromisso com o povo. Ser conselheirista hoje é reivindicar seus direitos, cumprindo seus deveres. É lutar para resgatar nossa cultura e dar uma alternativa aos mais jovens — diz Batista, que considera o desemprego o grande problema de Canudos hoje.

Neiva acredita que seria possível gerar mais empregos em Canudos mudando a relação da cidade com o açude. Ele calcula que Cocorobó poderia atender até 22 cidades, mas só atende parte de Canudos: a zona urbana e o perímetro irrigado.

— A água não chega na zona rural. Há uma perda excessiva com a evaporação, que poderia ser aproveitada. O estudo inicial previa irrigar 10 mil hectares, hoje são só 2 mil — calcula Neiva, que defende que o açude seja mais usado também para piscicultura e turismo náutico

Segundo o coordenador do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) na Bahia, Josafá Marinho, não há planos de alteração no açude. O Dnocs promete ações emergenciais para mitigar os efeitos da estiagem em Canudos, como a instalação de 10 poços artesianos já perfurados e 25 ainda por perfurar.

Coordenador do Centro de Estudos Euclides da Cunha (Ceec) da Uneb, o historiador Manoel Neto, que participou da demarcação do Parque nos anos 1980 e do salvamento arqueológico nos anos 1990, lamenta a estagnação da economia local e a falta de “projetos estruturantes” que contornem o domínio da produção de banana. E aponta outro problema que considera grave: a maneira como a história de Canudos é ensinada nas escolas.

— Os livros didáticos repetem o texto euclidiano no que tem de mais superado. “Os sertões” é um livro extraordinário, mas precisa ser lido de forma crítica, porque expõe teses racistas sobre o sertanejo que estavam em voga na época. Não se pode jogar essas teses na mão de alunos e professores mal preparados. O ensino tem que ser revisto, e em todo o país, não só em Canudos — diz Neto, que trabalha com a equipe do Ceeb em um guia de fontes sobre a cidade, com base no acervo de 32 mil documentos da instituição, e no filme “Três vezes Canudos”, que narra a história local em forma de cordel. 

Com a experiência de quem dá aulas na rede pública de Canudos há mais de uma década, o professor João Ferreira, de 45 anos, identifica um exemplo concreto desse problema: o uso da palavra “jagunço”, cujo significado original é “bandido” ou “capanga”, para definir, como fazem os principais dicionários brasileiros, o “indivíduo do grupo de fanáticos de Antônio Conselheiro”. 

— Mesmo os livros adotados aqui contam a história da perspectiva dos “vencedores”. Isso prejudica a visão que os jovens têm da cidade e de si mesmos. Ainda existe no Brasil a ideia de que Canudos não passa de uma simples tapera. É o olhar do século XIX. Mas Canudos tem futuro.


http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/


Vargas Llosa / O exemplo uruguaio

José Mujica
Mario Vargas Llosa

O exemplo uruguaio

A liberdade tem seus riscos, e quem acredita nela deve estar disposto a corrê-los. Assim entendeu o Governo de José Mujica ao legalizar a maconha e o casamento gay. E é preciso aplaudi-lo



FERNANDO VICENTE
Fez bem a The Economist ao declarar o Uruguai como o país do ano e ao qualificar de admiráveis as duas reformas liberais mais radicais tomadas em 2013 pelo Governo do presidente José Mujica: o casamento gay e a legalização e regulamentação da produção, venda e consumo da maconha.
É extraordinário que ambas as medidas, inspiradas na cultura da liberdade, tenham sido adotadas pelo Governo de um movimento que em sua origem não acreditava na democracia, e sim na revolução marxista-leninista e no modelo cubano de autoritarismo vertical e de partido único. Desde que ascendeu ao poder, o presidente José Mujica, que em sua juventude foi guerrilheiro tupamaro, assaltou bancos e passou muitos anos na prisão, onde foi torturado durante a ditadura militar, tem respeitado escrupulosamente as instituições democráticas – a liberdade de imprensa, a independência dos poderes, a coexistência de partidos políticos e as eleições livres –, assim como a economia de mercado e a propriedade privada, e estimulado o investimento estrangeiro. Essa política do simpático e ancião estadista, que fala com uma sinceridade insólita para um governante, embora isso o leve a meter os pés pelas mãos de vez em quando, e que vive muito modestamente em sua pequena chácara na periferia de Montevidéu e viaja sempre de segunda classe nas suas viagens oficiais, deu ao Uruguai uma imagem de país estável, moderno, livre e seguro, o que lhe permitiu crescer economicamente e avançar na justiça social ao mesmo tempo em que estendia os benefícios da liberdade a todos os campos, vencendo as pressões de uma minoria recalcitrante da aliança.
É preciso recordar que o Uruguai, diferentemente da maior parte dos países latino-americanos, tem uma antiga e sólida tradição democrática, a ponto de que, quando eu era criança, o país oriental costumava ser chamado de “a Suíça da América”, pela força da sua sociedade civil, pela legalidade arraigada e por ter Forças Armadas respeitosas em relação aos governos constitucionais. Além disso, sobretudo depois das reformas do batllismo, que reforçaram o laicismo e desenvolveram uma poderosa classe média, a sociedade uruguaia tinha uma educação de primeiro nível, uma riquíssima vida cultural e um civismo equilibrado e harmonioso, que era a inveja de todo o continente.
Eu me recordo da impressão que significou para mim conhecer o Uruguai, em meados dos anos sessenta. Não parecia um dos nossos esse país onde as diferenças econômicas e sociais eram muito menos descarnadas e extremas do que no resto da América Latina, e onde a qualidade da imprensa escrita e radiofônica, seus teatros, suas livrarias, o alto nível do debate político, sua vida universitária, seus artistas e escritores – sobretudo o punhado de críticos e a influência que eles exerciam sobre os gostos do grande público – e a irrestrita liberdade que se respirava em qualquer parte o aproximavam muito mais dos mais avançados países europeus do que de seus vizinhos. Lá descobri o semanário Marcha, uma das melhores revistas que conheci, e que se transformou para mim desde então uma leitura obrigatória para estar a par do que ocorria em toda a América Latina.
Essa política do ancião estadista deu ao Uruguai uma imagem de país estável, moderno, livre e seguro
Entretanto, já naquele tempo tinha começado a se deteriorar essa sociedade que dava ao forasteiro a impressão de estar se afastando cada vez mais do Terceiro Mundo e se aproximando cada vez mais do Primeiro. Porque, apesar de tudo de bom que acontecia ali, muitos jovens, e alguns não tão jovens, sucumbiam ao fascínio pela utopia revolucionária e iniciavam, segundo o modelo cubano, as ações violentas que destruiriam aquela “democracia burguesa” para substituí-la não pelo paraíso socialista, e sim por uma ditadura militar de direita, que encheu as cadeias de presos políticos, praticou a tortura e obrigou milhares de uruguaios a se exilarem. A drenagem de talentos e dos seus melhores profissionais, artistas e intelectuais que o Uruguai padeceu naqueles anos foi proporcionalmente uma das mais críticas já vividas na história um país latino-americano. Entretanto, a tradição democrática e a cultura da legalidade e da liberdade não foram totalmente eclipsadas naqueles anos de terror e, ao cair a ditadura e se restabelecer a vida democrática, floresceriam de novo com mais vigor e, diria-se, com uma experiência acumulada que sem dúvida educou tanto a direita como a esquerda, vacinando-as contra as ilusões violentas do passado.
De outro modo, não teria sido possível que a esquerda radical, que chegara ao poder com a Frente Ampla e os tupamaros, desse demonstrações, desde o primeiro momento, de um pragmatismo e um espírito realista que têm permitido a convivência na diversidade e aprofundado a democracia uruguaia em lugar de pervertê-la. Esse perfil democrático e liberal explica a valentia com que o Governo do presidente José Mujica autorizou o matrimônio entre casais do mesmo sexo e fez do Uruguai o primeiro país do mundo a alterar radicalmente sua política diante do problema da droga, crucial em todas as partes, mas de uma agudeza especial na América Latina. Ambas são reformas muito profundas e de longo alcance, as quais, nas palavras da The Economist, “podem beneficiar o mundo inteiro”.
O matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, já autorizado em vários países do mundo, tende a combater um preconceito estúpido e a reparar uma injustiça pela qual milhões de pessoas já padeceram (e continuam padecendo na atualidade), arbitrariedades e discriminação sistemática, da fogueira inquisitorial até a prisão, o assédio, a marginalização social e atropelos de toda ordem. Inspirada na absurda crença de que há uma só identidade sexual “normal” – a heterossexual – e que quem se distancia dela é um doente ou um delinquente, homossexuais e lésbicas ainda enfrentam proibições, abusos e intolerâncias que os impedem de ter uma vida livre e aberta, embora felizmente nesse campo, pelo menos no Ocidente, os preconceitos e tabus homofóbicos foram desmoronando, para dar lugar à convicção racional de que a opção sexual deve ser tão livre e diversa quanto a religiosa ou a política, e que os casais homossexuais são tão “normais” quanto os heterossexuais. (Em um ato de pura barbárie, o Parlamento de Uganda acaba de aprovar uma lei estabelecendo a prisão perpétua para todos os homossexuais.)

A repressão não funcionou, e o narcotráfico é hoje o principal fator para a corrupção na América Latina
Em relação às drogas, ainda prevalece no mundo a ideia de que a repressão é a melhor maneira de enfrentar o problema, embora a experiência tenha demonstrado à exaustão que, não obstante a enormidade de recursos e esforços investidos em reprimi-las, sua fabricação e consumo continuam aumentando em todo lugar, engordando as máfias e a criminalidade associada ao narcotráfico. Esse é nos nossos dias o principal fator para a corrupção que ameaça as novas e antigas democracias e que vai cobrindo as cidades da América Latina de pistoleiros e cadáveres.
Será bem-sucedido o audaz experimento uruguaio de legalizar a produção e o consumo da maconha? Seria muito mais, sem dúvida nenhuma, se a medida não ficasse confinada a um só país (e não fosse tão estatista), e sim que compreendesse um acordo internacional do qual participassem tanto os países produtores quanto os consumidores. Mas, mesmo assim, a medida vai golpear os traficantes e, portanto, a delinquência derivada do consumo ilegal, e demonstrará em longo prazo que a legalização não aumenta notavelmente o consumo, a não ser em um primeiro momento, embora depois, desaparecido o tabu que costuma conferir prestígio à droga perante os jovens, ele tenda a diminuir. O importante é que a legalização seja acompanhada de campanhas educativas – como as que combatem o tabaco ou explicam os efeitos nocivos do álcool – e de reabilitação, de modo que quem fuma maconha o faça com perfeita consciência do que faz, assim como ocorre hoje em dia com quem fuma tabaco ou bebe álcool.
A liberdade tem seus riscos, e quem acredita nela deve estar disposto a corrê-los em todos os domínios, não só no cultural, religioso e político. Assim entendeu o Governo uruguaio, e é preciso agora aplaudi-lo por isso. Tomara que outros aprendam a lição e sigam seu exemplo.

EL PAÍS




PESSOA


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Luiz Fernando Carvalho / A consciência dos sonhos





A consciência dos sonhos 

Por Luiz Fernando Carvalho



Diretor de ‘Alexandre e outros heróis’, especial de TV baseado nas histórias infantojuvenis de Graciliano Ramos, examina dimensões mítica, utópica e humana na obra do alagoano

Quando você conhece e convive com escritores — digo na minha vida particular — e ali, na imensa maioria dos papos sobre predileção literária, um único nome é repetido por gente muito diferente, é coisa para se levar a sério. Mesmo que você não se interesse tanto por literatura, pouco importa, quando um dia se deparar com um Graciliano entre as mãos e tiver a coragem de arregaçar em qualquer página e largar os olhos, duvido muito que a leitura não te arraste fácil para as páginas seguintes. Isso é comum na história da literatura. 

Sempre houve aqueles que eram os faróis da turma, que atravessaram gerações e gerações espalhando luzes. Pergunte ao Paul Auster quem ele lia direto. Pergunte a Ian McEwan. Ou passe os olhos nos diários de Borges, você vai encontrar a mesma resposta: William Faulkner! Num certo sentido, Graciliano Ramos é nosso Faulkner, nossa luz, não na mesma linguagem ou estilo, que nisto são diametralmente opostos, mas no manejo com os vocábulos, na precisão simétrica. Era como ele próprio dizia: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

A cada dia de gravação de “Alexandre e outros heróis” meu esforço e dedicação soavam mais e mais inúteis quando me lembrava destas palavras do escritor. Que conjunto de imagens seria este, capaz de articular uma narrativa que representasse o rigor de uma forma que se equivalesse à verticalidade de seu conteúdo moral, sem que com isso se perdesse o gesto cômico tão presente no enredo? Poucas imagens se sustentam — eu pensava. Mas, afinal, que entrelinha moral era essa que eu tateava? No meu modo de ver, a fábula de Alexandre não se interessa apenas pelo bem e pelo mal como as fábulas europeias do século IX. Nas entrelinhas de Alexandre há a simpatia cordial pelos fracos e injustiçados. Seu sentimentalismo mal dissimulado é o protesto de um coração sensível contra o materialismo implacável deste mundo. 

Talvez por isso, muito se diz que as histórias de Alexandre são quixotescas. Entendo aonde querem chegar, mas, apesar de entrever aí um imenso grau de elogio, não concordo. Dom Quixote estava sempre escolhendo entre o bem e o mal, mas fazia essas escolhas em seu estado de sonho, e só entrava na realidade quando estava tão ocupado tentando lidar com as pessoas que não tinha tempo para distinguir entre o bem e o mal. Ao seu modo, comprometido com a realidade que o cerca, Alexandre cria pela imaginação um mundo que o compensa de sua penúria. Ele fustiga a realidade e a enfrenta, investigando-a com seu olho transpassado. Não um olho de inventar maravilhas, mas o olho torto, de ver claro a moral das coisas. Ora, como nós só existimos em vida e na vida, precisamos dedicar nosso tempo a estarmos vivos. Por sua vez, vida é movimento, e o movimento está ligado àquilo que faz com que a humanidade se mova: amor, poder, ambição, prazer etc. O tempo que um homem, nos dias de hoje, terá para dedicar-se às questões de relevância moral, ah!, ele o terá que arrancar à força do movimento do qual faz parte para que aí então possa continuar a viver consigo mesmo no dia seguinte.

Em Alexandre, este anseio moral se expressa através de sua imaginação que é em si a marca de sua audácia: a necessidade de sonhar e de compartilhar este sonho. Portanto, sua utopia vai além, mais justa e lúdica consigo mesmo e também para com seu bloco de sujos, sua audiência de excluídos: um cantador de emboladas, um cigano sertanejo, uma benzedeira, um cego. Excluídos do mundo da produção e do trabalho, parecem adquirir, assim, com o estigma da marginalidade, uma aura sagrada. 

As histórias de Alexandre, se não são originais e se pertencem ao folclore do Nordeste, obedecem a um sentido definido. Este homem que fala a ouvintes obscuros mantém, por meio da imaginação, a capacidade de evocar, sob uma forma mítica, a existência de um mundo melhor do qual todos deveriam compartir. Sua substância como personagem não é a de um vulgar contador de vantagens. Alexandre representa a memória de um Imaginário. E, assim como nós, caminhando sobre o real dos dias, Alexandre terá sempre que fazer a tal escolha entre o bem e o mal. Sua consciência moral (como a nossa) parece ser a maldição que tem de aceitar dos deuses a fim de obter deles o direito de sonhar. Mas a consciência de Alexandre é o seu bem maior. E então, de sonho em sonho, sua natureza o coloca lúcido diante do todo, com a consciência de que foi criado e que não está vagando cegamente pelo paraíso.

*Luiz Fernando Carvalho é diretor de “Alexandre e outros heróis”, especial inspirado na obra infantojuvenil de Graciliano Ramos, que vai ao ar na TV Globo dia 18, quarta-feira, logo após a novela “Amor à vida”. A obra tem texto de Luís Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho



http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/


quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Gabriel García Márquez / O escritor das rosas amarelas



Gabriel García Márquez

Gabriel García Márquez

O escritor das rosas amarelas

Por María del Pilar Rodriguez
O Globo, 7.12.2013

Share on facebook


Jornalista relembra o encontro mágico com García Márquez numa das mais recentes sessões de fotos do autor colombiano


María del Pilar Rodríguez*

O fotógrafo Mauricio Vélez já não se lembra do dia em que sua cabeça se encheu da cor de Macondo, a mesma que, transformada em borboletas, perseguia seu xará, Mauricio Babilônia, em “Cem anos de solidão”. Foi o amarelo que o uniu — a princípio sem que ele mesmo soubesse — a um dos mais belos momentos de amor, respeito e fidelidade ocorridos no lar de Gabriel García Márquez.

Rosas amarelas, espécie de flores que Mercedes Barcha punha todos os dias, sem falta, na mesa de trabalho do grande escritor, era um amuleto macondiano por excelência, uma espécie de testemunha das linhas mais brilhantes que nossa terra já viu.

Numa certa manhã, Vélez viu uma imagem clara à sua frente: Gabo carregando um buquê de rosas amarelas para homenagear sua esposa. E a oportunidade apareceu. Germán Santamaría, diretor da revista “Diners”, determinou que fosse elaborada uma edição em homenagem ao Nobel e pediu que Vélez se encarregasse da foto da capa. A sorte parecia estar a seu favor... Mas o dia do fechamento da revista chegou, e a foto acabou não sendo feita. A decepção, no entanto, levou à determinação, e Vélez continuou perseguindo seu sonho amarelo — desta vez, para seu livro.

Faltavam poucos dias para que a obra “Retratos de Sociedad” (publicada este mês) fosse enviada para impressão. Conseguir fazer aquela foto já parecia algo impossível. Aparentemente, todos os caminhos tinham se esgotado, mas a força dos sonhos é capaz de fazer milagres. O telefone tocou. Era Dona Yolanda Pupo de Mogollón, diretora do Museu de Arte Moderna de Cartagena — a última pessoa a quem eu e Vélez havíamos solicitado mediação. E ela, em nome da arte e com voz de quem traz boas notícias, disse:

— Anota aí o número da Mercedes. Ela está esperando o telefonema do fotógrafo. Aceitou recebê-lo.

Euforia! Era isso que gritavam as rosas amarelas que chegaram às minhas mãos com destino marcado: ser parte do retrato sonhado, da imagem perseguida, da fotografia de Gabriel García Márquez. O olhar de Vélez antecipava um milagre. Cartagena brilhava em seu maior esplendor. Tudo parecia maravilhoso até que Dona Yolanda nos contou sobre “A polaca”.

Doçura de um menino

Um calafrio percorreu nosso corpo, e eu me enchi de angustia só de pensar que, graças à ousadia de uma polaca silenciosa que se apresentava sempre às portas do escritor — estivesse ele no México ou em Cartagena — com um buquê igual ao que eu levava, teria problemas.

Mas o bálsamo do sorriso diáfano de uma mulata bonachona nos abriu a porta, emitindo a seguinte frase:

— Passem e escolham o lugar onde querem fazer a foto.

Com dois passos largos quase imprudentes, Mauricio Vélez venceu os degraus da escada à sua frente, enquanto eu me acomodava no banco de madeira onde repousava um guarda-chuva preto que servia para confirmar as chuvas recentes. A poucos metros de distância, estava o pai de Florentino Ariza.

A mulata cândida me guiou até a locação escolhida por Vélez. O frio na barriga atingiu seu ápice. Entrei na sala, e meus sentidos foram premiados como uma visão inesperada, o talento de Obregón (o artista plástico colombiano Alejandro Obregón, que morreu em 1992) se manifestou diante dos meus olhos no mural branco e azul escuro que havia sido retirado de uma casa no centro histórico e levado àquela edificação.

Escolhi ficar na esquina mais longe da porta, de pé, abraçada às rosas amarelas como se elas fossem a única razão por eu estar ali. E aconteceu o que esperávamos. Sentimos os passos de quem já cumpriu sua tarefa com a Humanidade e, de repente, vimos a figura do criador de Macondo.

Mauricio Vélez o cumprimentou. Ele respondeu e inspecionou a cena ao seu redor, movendo a cabeça. Deu de cara comigo e perguntou:

— Quem é ela?

O frio na barriga atingiu o ápice, mas eu resisti e não lhe disse nada. Mauricio respondeu por mim.

— Ela veio trazer essas rosas amarelas para o senhor.

Meus pés se mexeram na direção dele. Entreguei as rosas ao neto de Papa Lelo e Mina, ao sobrinho de Tia Pa e aquele que, com a mesma doçura de um menino, seguiu as instruções do fotógrafo. Vélez, em meio a um êxtase criativo, capturou a imagem que hoje comove milhares de pessoas que folheiam o livro “Retratos de Sociedad”.

Gabriel José, como foi chamado em homenagem ao patrono de sua cidade natal, Aracataca, ou Gabito, como seu irmão Jaime me instruiu a chamá-lo, convidou-me para sentar ao seu lado e disse:

— Melhor assim.

— O senhor prefere falar com as mulheres?

— Sim. É que com as mulheres dá para saber se elas estão bem ou mal. Com os homens, a gente nunca sabe...

Encontro de velhos amigos

O humor rápido e único de Gabo se manifestou diante de nós, e um mar de gargalhadas povoou o local. Vélez me chama para posar ao lado de nosso interlocutor para que ele pudesse capturar uma imagem, e eu me perco na ternura de um olhar que me diz muito mais do que jamais poderia ter esperado...

Passam-se alguns minutos, e é o fotógrafo que pede para ser fotografado. O assistente prepara tudo, e aquele encontro de almas fica imortalizado. A cumplicidade salta aos olhos na imagem. Nem parece que haviam passado apenas 105 minutos desde que os dois se conheceram. Aquilo lembrava um encontro de velhos amigos.

Entrou, então, Dona Mercedes, investida com a doce voz da autoridade. Disse ao marido que, no cômodo ao lado, seus sobrinhos o esperavam. Ele fica de pé, mostrando a elegância do Caribe que nunca perdeu. Usa mocassins brancos que lembram Barranquilla e uma guayabera perfeitamente engomada, confirmando que tem quem o cuide, admire e ame.

Saímos daquele lugar com a alma cheia de borboletas amarelas. Eram 12h45m do sábado 25 de maio de 2013. “A polaca” não estava perto, e nós havíamos compartilhado mais de uma hora com um ser de outro mundo, uma alma de Aracataca que, nos anais da História, é e será conhecido como o Nobel de Literatura de 1982, mas que, graças à imagem de Mauricio Vélez, também será lembrado como Gabito, o escritor das rosas amarelas.

*María del Pilar Rodríguez é curadora de arte e escritora, e escreveu este texto especialmente para o jornal “El Tiempo”, da Colômbia, membro do GDA (Grupo de Diários América)